OGUM (Orixá protetor contras as guerras,
protetor da Umbanda)
23 de abril “Dia de
São Jorge” é comemorado na umbanda como o “Dia de Ogum”, os trabalhos
espirituais feitos
para o orixá Ogum são fortíssimos dando proteção aos
devotos e promovendo a anulação de feitiços enviados para prejudicar seus
caminhos, fechando o corpo contra inveja, mau
olhado, afastando os inimigos e rivais de sua vida profissional e amorosa.
Neste dia dedicado a OGUM, o orixá
da guerra, aquele que nunca abandona seus filhos no campo de
batalha e aniquila com fúria os inimigos e rivais; realizamos oferendas
especiais e fazemos a
confecção de um patuá de Ogum que servirá de escudo
protetor durante todo
o ano para que o filho ou devoto de nosso querido Pai possa
usar sempre consigo este objeto de grande proteção contra os inimigos carnais e
espirituais.
Acredita-se que São Jorge tenha pertencido ao
exército romano e converteu-se ao cristianismo sendo por esse motivo torturado
e teve a cabeça decepada a mando do imperador Diocleciano.
Embora cassado, São Jorge continuou sendo o
patrono ou o santo protetor de muitas nações, como exemplo a Inglaterra,
Portugal e a Rússia.
Na Umbanda São Jorge continua sendo o santo que
representa Ogum. Ele é o Orixá protetor contra as guerras e contra as demandas
espirituais. Ogum é também o protetor dos militares, de todos os seguidores da
Umbanda e também daqueles que sofrem perseguições materiais ou espirituais.
Sua cor é o vermelho encarnado, seu fetiche é a
espada, ele é o guerreiro que trava batalhas espirituais contra as forças do
mal e é respeitadíssimo dentro de nossos cultos, como também pelos seguidores
do mal. É comum os exus castiços (de lei) chamarem Ogum de “meu Senhor das
armas”, esse procedimento já demonstra o respeito que obtém de todos os
nossos trabalhadores.
“Sob a sua responsabilidade
está a manutenção da lei e da ordem
no mundo astral”!
Ogum
é um dos orixás mais populares no Brasil. Perdeu, todavia, os atributos de
protetor da agricultura e da caça, que passaram a ser identificados
exclusivamente com Oxóssi, e tornou-se conhecido sobretudo como deus da guerra,
sendo sincretizado na Bahia com Santo Antônio de Pádua e nos outros Estados,
especialmente o Rio de Janeiro, com São Jorge. Em função do sincretismo e da
forte presença negra entre as tropas brasileiras, esses santos passaram a
receber honras militares, o que incluía até mesmo patentes de oficial no
Exército Brasileiro e na Marinha, com direito a soldo!
Cabe lembrar que os negros constituíam maioria
entre os soldados e marinheiros que lutaram na Guerra do Paraguai. As tropas
jamais deixaram de invocar a proteção de Ogum, seja diretamente ao orixá, seja
na forma de São Jorge, o que talvez explique algumas expressões presentes nos
pontos cantados, como Ogum jurou bandeira nos campos do Humaitá. A hipótese se torna ainda mais forte quando
lembramos que Humaitá é o
nome de uma localidade onde ocorreu uma das mais importantes batalhas daquela
guerra, sendo ao mesmo tempo o nome atribuído à região do mundo invisível - o orum - que se acredita seja a morada de Ogum.
Conhecido como o general de Oxalá, Ogum protege
a todos que a Ele recorrem. Seus domínios são todos os caminhos e todos os
lugares. Em qualquer lugar que exista a menor possibilidade da prática do mal
Ogum é atuante, seja nas encruzilhadas, nas matas, nos cemitérios, nas praias,
na subcrosta, etc.
A lei de Ogum é a lei da espada, sua linha é a
mais atuante contra as forças da Quimbanda e da magia negativa e suas funestas
consequências.
Nas obrigações a Ogum alguns seguidores usam
cravos vermelhos ou brancos, velas vermelhas ou brancas, cerveja branca, água,
pedidos e orações.
Desconhecemos o motivo pelo qual a cerveja
branca é consagrada a Ogum, já que essa bebida não existia na África, mas nas
manifestações da linha de Ogum no terreiro, a cerveja branca é solicitada pelas
entidades de sua linha, desta forma pode-se dizer que essa é a sua bebida, juntamente
com a água.
O uso de água em nossos rituais é de grande
ajuda, espíritos trevosos ou malignos não bebem água, desta forma se algum dia
você desconfiar de mistificação em relação a qualquer entidade, solicite a ela
que beba água, se a entidade recusar a água, sua máscara cairá.
O uso de água contra demandas espirituais é
comum, por ser a bebida de Oxalá.
Recorra a Ogum sempre que se sentir ameaçado
espiritual ou materialmente. Peça ajuda a Ele, para você ou para qualquer
pessoa que você notar estar embaraçada.
“Ogum jamais desampara aqueles que a Ele pedem
ajuda”
- Cor Vermelho
- Domínios Todos os caminhos e lugares
- Atuação Contra demandas e feitiços
- Saudação Ogum é meu pai ou Ogum iê
- Elementos Terra e fogo
O SANTO-GUERREIRO VENCEDOR DE DEMANDA
No que diz respeito ao culto dos orixás, a grande
diferença entre o Candomblé, que preserva mais fielmente as raízes africanas, e
a Umbanda, resultado do sincretismo com cultos cristãos e ameríndios, é que,
nesta última, eles não são mais vistos como seres com atributos humanos, mas
como campos de força impessoais que manifestam diferentes facetas da energia
divina e dentro do qual atuam entidades dos mais diversos níveis evolutivos, em
missões específicas. O Ogum da Umbanda não é mais o violento e destemperado
guerreiro africano, que "come cachorro" e "lava-se com
sangue". Transforma-se no guerreiro divino, empenhado no combate ao mal, e
no vencedor de demandas,
que apóia os homens em momentos de dificuldade. Na Umbanda Popular, a
identificação de São Jorge com Ogum é uma constante. A própria aparência do
orixá se modifica: em vez do akorô, o
capacete; em vez do mariuô, o
manto e o escudo de guerra.
NOS PONTOS CANTADOS, O SIMBOLISMO DE MARTE
Os pontos (cantigas
litúrgicas) dedicados a Ogum revelam, para além da simplicidade e trivialidade
de seus versos, um sentido alegórico mais amplo, que tanto remete aos
fundamentos da cosmovisão afro brasileira quanto a inesperadas conexões
astrológicas, como veremos a seguir. Analisemos alguns pontos:
Ô Jorge, Ô Jorge,
vem de Aruanda
pra salvar os vossos filhos
no terreiro de Umbanda.
Ogum, Ogum,
Ogum meu pai,
o senhor mesmo é quem diz:
filho de Umbanda não cai.
Aqui, como em muitos outros pontos, Ogum aparece
identificado com São Jorge, o santo guerreiro do catolicismo. O
simbolismo, aliás, não poderia ser mais adequado: São Jorge veste uma armadura
de guerra (a proteção necessária para atuar em ambientes inferiores) e monta um
cavalo branco (as forças da matéria e o lado animal da personalidade, já
purificados - por isso a cor branca - e colocados a serviço de desígnios
elevados). Utiliza a lança e a espada (um símbolo do direcionamento da energia)
e consegue vencer o dragão (as forças das trevas).
Jorge, ou melhor, Ogum, vem de Aruanda -
termo banto que significa céu ou plano espiritual -
para ajudar seus filhos.
OGUM YARA, OU A UNIÃO DO FOGO E DA ÁGUA
Se meu pai é Ogum
vencedor de demanda
ele vem de Aruanda
pra salvar filhos de Umbanda.
Ogum, Ogum Yara,
salve os campos de batalha,
salve as sereias do mar,
Ogum, Ogum Yara.
vencedor de demanda
ele vem de Aruanda
pra salvar filhos de Umbanda.
Ogum, Ogum Yara,
salve os campos de batalha,
salve as sereias do mar,
Ogum, Ogum Yara.
Os quatro primeiros versos confirmam as mesmas
idéias já expressas nos pontos anteriores, acrescentando mais uma: a de Ogum
como vencedor de demandas.
Demanda é termo muito
utilizado em terreiros, significando luta entre orixás (que, no plano mítico,
representavam as lutas tribais entre nações africanas) e, num sentido mais
amplo, desentendimentos, conflitos, obstáculos colocados intencionalmente no
caminho do indivíduo e agressões de toda espécie (inclusive as de natureza
psicológica ou energética).
A expressão salve
os campos de batalha pode causar uma certa estranheza, por sugerir, à
primeira vista, um elogio à violência. Refere-se, entretanto, à própria vida,
um campo de batalha onde os homens lutam permanentemente para vencer suas
tendências inferiores. Como disso depende o crescimento espiritual, a luta é
considerada bem-vinda e necessária.
A cultura afro brasileira, à semelhança da
Astrologia, faz referência constante aos quatro elementos da natureza, que
seriam assentamentos da energia dos orixás.
Por assentamento entenda-se
um suporte material, que pode ser orgânico ou inorgânico, de estrutura simples
ou complexa, que guarda uma relação de analogia, contigüidade ou semelhança de
atributos com princípios de ordem não material, e que, por este motivo, servem
de veículo à manifestação destes. Assim, por exemplo, a água dos rios, lagos e
oceanos limpa, refresca, acalma, nutre e protege, guardando analogia direta com
o modo de atuar de alguns orixás femininos também relacionados à nutrição, a
proteção e ao apaziguamento, como as maternais Iemanjá, Oxum e Nanã.
Há orixás profundamente ligados ao elemento
Terra e a seus valores, como a estabilidade e a prudência. É o caso de Obaluaiê
e de Oxalufã, a manifestação "velha" de Oxalá. Outros identificam-se,
no todo ou em parte, com o elemento Ar, como os que regem as florestas e o
processo de fotossíntese (Oxóssi é um bom exemplo) ou associam-se com o
movimento e a imaterialidade, como os ibejis (as crianças gêmeas),
sincretizados no Brasil com os santos católicos Cosme e Damião. Já Ogum é o
mais típico e mais puro representante do elemento Fogo. Entretanto, da mesma
forma como, na carta astrológica, o regente de um signo de Fogo pode situar-se
em signo de outro elemento (um Sol em Capricórnio ou um Júpiter em Libra), o
orixá assume, nos mitos que o apresentam, nuances de todos os elementos e
atributos de todos os princípios da natureza.
Yara é palavra
tupi-guarani que significa senhor, proprietário. Ogum Yara é o Ogum que trabalha em associação com o
orixá feminino Oxum, combinando a vibração purificadora do fogo com a das águas
de rios e cachoeiras. O ponto faz ainda uma referência a Iemanjá quando fala
das sereias do mar,
tradução sincrética de entidades da mitologia africana que manipulam energias
benéficas existentes no fundo dos oceanos.
O ponto pode ser entendido, então, como uma
invocação ou pedido de ajuda a uma certa legião de Oguns, cujos integrantes são
capazes de mobilizar, simultaneamente, energias pertencentes aos elementos Fogo
e Água.
O SETE E A VARINHA MÁGICA DE OGUM
Eu tenho sete espadas
pra me defender,
eu tenho Ogum
em minha companhia.
Ogum é meu pai,
Ogum é meu guia,
Ogum é meu pai,
venha com Deus
e a Virgem Maria.
pra me defender,
eu tenho Ogum
em minha companhia.
Ogum é meu pai,
Ogum é meu guia,
Ogum é meu pai,
venha com Deus
e a Virgem Maria.
Ogum tem estreita relação com o número sete, o
que é explicado por duas lendas iorubanas. Na primeira, ele aparece como o
guerreiro - filho de Odudua, rei de Ifé - que conquista a cidade de Irê e
assume o título de Oni (senhor ou rei). Em torno de Irê havia sete aldeias, hoje
desaparecidas. Por essa razão, acreditava-se que Ogum fosse composto por sete
partes, uma para cada aldeia conquistada. Em iorubano, sete é mejê, de onde resultou a expressão Ogum
Mejê (O Ogum que são sete, ou o Ogum composto de sete
partes). É a ele, portanto, que o ponto é dedicado.
A outra lenda fala do casamento entre Ogum e
Oiá. Ogum tinha uma vara mágica, feita de ferro (metal que lhe está associado),
que tinha a propriedade de dividir em sete partes os homens e em nove partes as
mulheres que tocasse. Em sua oficina de ferreiro, Ogum confeccionou uma vara
igual e deu-a de presente a Oiá. Algum tempo depois, porém, Oiá fugiu com Xangô
e foi perseguida pelo furioso marido traído. Quando se encontraram, entraram em
combate com suas varas mágicas, dividindo-se Ogum em sete parte e Oiá em nove.
Por isso ela é chamada de Iansã,
termo composto de duas palavras iorubanas: Iá ou Inhá (mãe)
e messan (nove).
Se voltarmos aos mitos do Ares grego, vamos
encontrar um de grande interesse. Ares estava sempre em combate com a deusa
Atena (assim como Ogum e Oiá). Conta uma lenda que certa vez, ao rebater um
golpe de Ares, Atenas tomou uma pedra negra e bateu com tanta força nas costas
de Ares que este cambaleou e caiu de forma tal que seu corpo, na queda, cobriu
uma área de oitenta e quatro pés quadrados. Ora, 84 é igual a 12 vezes 7.
Trata-se de um simbolismo que retrata o percurso turbulento de Marte por todos
os signos do zodíaco!
A espada está ligada ao orixá de três formas:
por ser guerreiro e caçador, Ogum rege as armas em geral; por ser ferreiro, é
fabricante de objetos de metal; e, finalmente, é o orixá regente do ferro,
matéria-prima para a maioria das armas. Como símbolo, a espada representa a
energia mobilizada e direcionada para cortar o avanço do mal. Basta lembrar uma
outra lenda, criada num ambiente bem diferente do que estamos tratando: a
história céltica do Rei Artur que, munido da espada mágica Excalibur e
sob a orientação de um iniciado, o Mago Merlin, combate as forças malignas
acionadas por temíveis feiticeiros. Excalibur é o
instrumento do combate da magia branca contra a magia negra. A espada de Ogum
tem o mesmo significado.
Cabe observar também que o ferro é o elemento
químico essencial para a formação dos glóbulos vermelhos. Da mesma forma como
sua carência torna o indivíduo anêmico, a carência da raiz energética de Ogum
cria uma espécie de anemia espiritual, ou seja, uma falta de coragem e de
disposição para lutar pelo próprio desenvolvimento. É por causa dessa função
revitalizadora que Ogum é apresentado nos mitos africanos como o orixá que vem
na frente, o pioneiro na tarefa de descer à Terra e
acordar os homens. Trata-se, evidentemente, de uma função típica de Áries e
Marte.
O orixá mostrado neste ponto não é, certamente,
o guerreiro selvagem e violento de alguns mitos iorubanos: é um campo de
energias poderosas, mas a serviço de desígnios superiores (ele vem com Deus)
e movida pela compaixão com os que sofrem (ele vem com a Virgem Maria).
OGUM RESSURGE COMO SÃO JORGE
Ogum, erga a sua espada,
levante a sua lança
para nos defender.
Nos dê proteção com seu escudo
toda vez que o inimigo nos aborrecer.
Nos cubra com o seu sagrado manto,
sua bandeira tão gloriosa (...)
Atire as patas do seu cavalo
contra o dragão e a serpente venenosa (...)
levante a sua lança
para nos defender.
Nos dê proteção com seu escudo
toda vez que o inimigo nos aborrecer.
Nos cubra com o seu sagrado manto,
sua bandeira tão gloriosa (...)
Atire as patas do seu cavalo
contra o dragão e a serpente venenosa (...)
Típico produto da Umbanda Popular, já distante
de qualquer influência africana, o ponto apresenta Ogum na forma sincretizada
de santo guerreiro (a bandeira e o manto não são atributos de Ogum, mas de São
Jorge). A letra, de cativante ingenuidade, mostra os sentimentos do povo
brasileiro em relação ao seu orixá: ele é o herói mítico, o paladino que vem em
defesa daqueles que enfrentam as forças do mal.
Nas práticas mais primitivas do sincretismo
afro brasileiro, Ogum muitas vezes é invocado como se fosse uma espécie de
guarda-costas celeste, um orixá que, se devidamente agradado, tomará partido em
favor do filho de fé e voltará sua fúria contra os inimigos. Essa visão
simplista está presente, por exemplo, no comportamento do personagem principal
do filme O Amuleto de Ogum,
de Nelson Pereira dos Santos, um marginal que recorre à ajuda de um terreiro
para que Ogum lhe feche o corpo contra as balas dos inimigos.
As concepções mais elaboradas, entretanto, não
vêem o orixá como um ser a serviço dos interesses do homem, nem disposto a
tomar partido em seus conflitos. Em essência, as lutas de Ogum processam-se
dentro da própria alma, que traz simultaneamente o dragão e a serpente das
tendências inferiores assim como o germe da Divindade. Invocar Ogum significa ativar
as energias vitais que estão adormecidas na alma, despertar a parcela divina
presente em cada ser humano e mobilizar a força necessária para avançar.
A LUA COMO CAMPO DE BATALHA
Cavaleiro supremo,
mora dentro da lua.
Sua bandeira divina,
manto da Virgem pura.
mora dentro da lua.
Sua bandeira divina,
manto da Virgem pura.
A lenda de São Jorge, que não tem qualquer
origem no culto dos orixás, mas sim no Cristianismo Popular, atribui-lhe o
domínio da Lua, onde ele estaria em permanente combate com o dragão. É
interessante notar que o símbolo da Lua, do ponto de vista astrológico, não é o
desenho da Lua Cheia, mas do Crescente, que é formado por dois semi-círculos.
Enquanto o círculo - o Sol - representa o espírito enquanto instância
permanente e perfeita, o semicírculo é a alma, ou seja, o espírito ainda submetido
às experiências da evolução, aprisionado nas sombras da própria ignorância e no
vendaval das paixões ainda não dominadas. A Lua não tem brilho próprio, apenas
refletindo a luz do Sol. Da mesma forma, para tomar de empréstimo uma concepção
do pensamento hinduísta, a alma que perambula nas experiências de aprendizagem
expressa apenas um reflexo provisório de sua verdadeira identidade, que só
brilhará de forma pura quando o espírito transcender o ciclo das reencarnações
e alcançar os planos mais elevados da absoluta ausência de forma, no mental
superior.
Há um ditado do Catolicismo Popular que afirma
que Maria é o atalho para Jesus. Da mesma maneira, muitos astrólogos medievais viam a
Lua como um caminho para o Sol, assim como, na concepção hinduísta, a vida sob
o domínio da emoção e dos sentimentos é a etapa necessária para a vida no plano
da criação pura. Voltando aos astrólogos da Idade Média, era comum em textos da
época a referência ao mundo sublunar para falar da mutável
e inconstante realidade terrena, em contraste com a atemporalidade da perfeição
espiritual simbolizada pelo Sol. Em todas as religiões antigas, a Lua e o Sol
constituem um casal divino, cujo melhor exemplo é o mito de Ísis e Osíris no
Egito. No sincretismo afro brasileiro, a associação é com Iemanjá e Oxalá,
identificados, aliás, com Nossa Senhora e Jesus Cristo.
Mas por que razão Ogum, orixá de conotação
nitidamente masculina, assim como São Jorge, santo militar e pertencente a um
universo dominado pelos homens, surgem tão freqüentemente relacionados à Lua e
aos orixás femininos das águas, como Iemanjá e Oxum? Há, pelo menos, duas
explicações possíveis: em primeiro lugar, as demandas que Ogum enfrenta
pertencem todas ao domínio das paixões inferiores, como o ódio, a inveja, o
ciúme e o egoísmo. A Lua, cuja permanente mudança de fases bem representa a
instabilidade da alma humana, é o campo
de batalha onde os instintos precisam ser vencidos para que
brilhe a natureza solar. Em segundo lugar, podemos lembrar o princípio da
complementaridade dos opostos: masculino e feminino são polaridades que não
podem existir de forma exclusiva, sem a complementaridade do outro pólo.
Ogum, que carrega consigo tantas qualidades
positivamente masculinas, como a força, a coragem, a energia do fogo e a carga
de agressividade necessária para qualquer realização, precisa do tempero da
receptividade, da doçura, da paciência e da devoção, atributos femininos dos
orixás das águas. Sem esse tempero, o resultado é desequilíbrio. Os mitos
africanos, ao mostrarem um Ogum guerreiro, violento, destruidor e, ao mesmo
tempo, incapaz de compreender a alma feminina (ele perde, sucessivamente, suas
esposas para Xangô), não estão falando verdadeiramente do orixá, mas de sua
manifestação imperfeita e desequilibrando no próprio ser humano. Na medida
em que as qualidades precisam ser integradas e harmonizadas, os conflitos
míticos entre os orixás dramatizam exatamente a luta por essa integração
interior, na busca da totalidade psíquica.
O Ogum do sincretismo afro brasileiro, que
trabalha harmoniosamente associado a Oxum e Iemanjá, como demonstram os pontos,
já expressa, pois, uma concepção mais integrativa do que aquela presente nas
lendas iorubanas.
O ponto atribui uma característica feminina à
bandeira de São Jorge: não é mais o estandarte de guerra, mas o próprio manto
da Virgem. Em todos os pontos em que Ogum aparece associado ao princípio
feminino, seja sob a forma da Virgem Maria, de Iemanjá ou de Oxum, o sentido é
sempre o da força dirigida pela sabedoria, a energia de luta colocada a serviço
da misericórdia. Trata-se de um belo simbolismo que reúne elementos das
tradições cristã e iorubana.
O SANTO-GUERREIRO NOS QUATRO ELEMENTOS
Em plena mata virgem
eu vi um cavaleiro
com seu cavalo branco
vindo da macaia.
É nas ondas do mar,
é no clarão da Lua.
Auê, vamos saravar Ogum Mejê,
Saravá Rompe-Mato,
Olha Ogum Beira Mar,
Ogum de Lei.
eu vi um cavaleiro
com seu cavalo branco
vindo da macaia.
É nas ondas do mar,
é no clarão da Lua.
Auê, vamos saravar Ogum Mejê,
Saravá Rompe-Mato,
Olha Ogum Beira Mar,
Ogum de Lei.
Macaia é palavra banta,
originária do dialeto kikongo (do antigo Congo),
significando folhas sagradas.
Pode ser traduzida também por mata sagrada (o lugar da mata
reservado à realização de rituais) ou, dependendo do contexto, porfumo.
No ponto ora em análise, o sentido dos quatro primeiros versos é, então:
Eu estava na mata virgem (território
de Oxóssi) quando vi surgir, vindo de seu local mais sagrado (um
plano superior), São Jorge em seu cavalo branco (uma
entidade de Ogum de grande elevação).
O sentido dos dois versos seguintes já foi
explicado no ponto anterior: são as energias de Ogum que surgem mescladas às de
Iemanjá.
No sétimo verso, surge a expressão auê, que vem do iorubano àwé, ou seja,meu amigo. É uma saudação amistosa
dirigida a desconhecidos e utilizada para todos os orixás. Aparece também o
verbo saravar,
que é simplesmente o mesmo que salvar,
ou saudar,
no português estropiado falado pelos primeiros escravos bantos (A palavra é
puramente brasileira e não tem nada de africana. Dizer Saravá! é
dizer salve!).
Em seguida, relacionam-se quatro diferentes manifestações do orixá: Mejê, ou o Ogum que são sete,
ligado a Iansã; Rompe-Mato,
ou aquele que trabalha ligado a Oxóssi e Ossãe; Beira-Mar, que atua em conexão com Iemanjá; e Ogum
de Lei, cujo nome vem do iorubano Delé, o que toca o solo. É o Ogum ligado à terra, ao chão.
No mesmo ponto, aparecem, pois, todas as forças da natureza, ou todos os
elementos astrológicos:
Ogum Beira-Mar - Marte em signos de
Água (Câncer e Peixes).
Ogum Mejê - Marte em signos de
Fogo, especialmente Áries - é o Ogum do ferro e das armas, que troca energias
com a também guerreira Iansã.
Ogum Rompe-Mato -
Marte em signos de Ar, especialmente Libra (a ligação com Oxóssi, um princípio
agregador e civilizador, com muitos atributos venusianos) ou Aquário (a conexão
com Ossãe, orixá do conhecimento fitoterápico, com muitos atributos do espírito
inventivo e científico associado a este signo).
Ogum De Lei -
Marte em signos de Terra e relacionados com sua natureza estabilizadora, como
Touro.
COMO O BRASIL VIVE SEU MARTE
As tradições referentes a
São Jorge e a Ogum começaram a firmar-se no Brasil ainda no período colonial, o
que permite que procuremos o molde astrológico desses cultos no mapa-matriz de
todo o período pré-independência: a carta do Descobrimento, que corresponde ao
momento em que a esquadra de Cabral fez o primeiro avistamento da terra, ao
largo da costa baiana, nas imediações do Monte Pascoal. Em outros artigos, já
apresentamos uma versão retificada desta carta para as 16h53 LMT do dia 22 de
abril de 1500, com o Ascendente em 28º48' de Libra e o signo de Escorpião
interceptado na casa 1 (um signo interceptado é aquele que está totalmente contido
dentro de uma casa e sem contato com sua cúspide, ou ponto inicial). A outra
hipótese, defendida, por exemplo, por Raul Martinez, seria aquela de um
Ascendente Escorpião para o mapa do Descobrimento. Em qualquer das duas
versões, a casa 9 (crenças, religiões, ética) apresenta como único ocupante o
planeta Marte, no primeiro grau do feminino e lunar signo de Câncer. Marte está
em trígono exatamente com a Lua em Peixes, regente de Câncer, e com Urano no
último grau de Aquário, posição muito próxima do Ascendente da carta da
Independência, da qual este Urano é regente.
Marte em Câncer na casa das crenças e religiões
já indica que, desde o alvorecer da formação do país, haveria de impor-se o
culto a um princípio marciano - um "deus-guerreiro" - temperado pela
natureza maternal da Lua. Do vasto conjunto de santos católicos, aquele que
melhor preenchia tais características era exatamente São Jorge em sua concepção
de "vencedor de demandas" sob a proteção do estandarte da Virgem
Maria (o trígono com a Lua em Peixes). Esta Lua identifica-se também com
Iemanjá, a divindade do estuário dos rios da Nigéria, que no Brasil
transformou-se em Rainha do Mar (Peixes, signo da
vastidão oceânica). A participação de Urano na configuração mostra que tais
cultos - a Iemanjá, a Ogum, a São Jorge e a Nossa Senhora - tendiam (e ainda
tendem) a gerar uma síntese criativa, apta a afastar-se cada vez mais dos
modelos originais e a permitir a formulação de uma expressão religiosa própria,
tipicamente nativa, mediante o livre aproveitamento de elementos das raízes
européia, africana e indígena. Observe-se que Urano e Lua ocupam a casa 5, da
criatividade e também dos afetos. A religiosidade brasileira está vocacionada
para um desprendimento das amarras institucionais, ganhando uma dimensão
intimista, libertária e afetiva. Aliás, cabe observar também que o Meio-Céu do
mesmo mapa está em Câncer e que seu regente, a Lua, encontra-se em Peixes.
Sendo dois signos aquáticos e femininos, não é de estranhar que o país tenha
como padroeira (um sentido de casa 10) Nossa Senhora Aparecida, uma virgem
negra cuja imagem foi encontrada no século XVIII por humildes pescadores no rio
Paraíba, na mesma região onde hoje ergue-se a basílica de Aparecida do Norte.
Como toda configuração astrológica comporta
expressões positivas e negativas, Marte em Câncer na 9 também fala de combate
por questões religiosas e da agressividade com que a Igreja Católica se impôs
em alguns momentos da vida colonial, em estreita associação com o poder dos
administradores portugueses (trígono com a Lua, regente do Meio-Céu, ponto que
simboliza a autoridade do governante). As conversões forçadas, as manifestações
de intolerância religiosa e a violência contra índios e escravos em nome da fé
também estão no escopo da configuração.
Mas a Igreja Católica teve na colônia, por outro
lado, representantes de elevada estatura moral e profundo amor pela terra e sua
gente. O exemplo mais evidente foi o do jesuíta José de Anchieta, um doce se
bem que enérgico espanhol cuja dedicação a história registrou atribuindo-lhe o
título de Apóstolo do Brasil. Anchieta tinha Marte no primeiro grau de Câncer
ou nos últimos minutos de Gêmeos (nasceu em 19 de março de 1534, horário
desconhecido) e, de todas as formas, em conjunção muito próxima com o Marte do
Descobrimento e com a cúspide da casa 9 desta mesma carta. Anchieta utilizava o
teatro e a música em seu trabalho de catequese - foi dramaturgo e compositor -
o que corporifica outro sentido do trígono entre Marte na 9 e Lua-Urano na 5 na
carta do Descobrimento: a associação entre arte e religiosidade durante todo o
período colonial. Tal potencial realizou-se tanto através do Catolicismo
dominante (basta pensar na arte sacra de Aleijadinho e do padre-compositor José
Maurício) quanto dos cultos dos escravos, que resultaram em um manancial de
referências estéticas até hoje explorado pela música popular, pela dança e pela
pintura.
Oração a Ogum
Pai Ogum, que minhas palavras e pensamentos cheguem até
vós, em forma de prece, e que sejam ouvidas
Que esta prece corra o mundo e o universo, e chegue
até os necessitados em forma de conforto para as suas dores.
Que corra os quatro
cantos da Terra e chegue aos ouvidos dos meus inimigos, em forma de brado de
advertência de um filho de OGUM, que sou e
nada temo, pois sei que a covardia não muda o destino.
OGUM, padroeiro dos agricultores e lavradores, fazei
com que minhas ações sejam sempre férteis como o trigo que cresce e alimenta a
humanidade, nas suas ceias espirituais, para que todos saibam que sou teu
filho.
OGUM, Senhor das estradas, fazei de mim um
verdadeiro andarilho, que eu seja sempre um fiel seguidor do teu exército, e
que nas minhas caminhadas só haja vitórias.
Que, mesmo quando
aparentemente derrotado, eu seja um vitorioso, pois nós, os vossos filhos
conhecemos a luta, como esta que travo agora, embora sabendo que é só o começo,
mas tendo o Senhor como meu pai, minha vitória será certa.
OGUM, meu grande pai e protetor, fazei com que o meu
dia de amanhã seja tão bom como o de ontem e hoje, que minhas estradas sejam
sempre abertas, que eu trabalhe para que no meu jardim só haja flores, que meus
pensamentos sejam sempre bons e que aqueles que me procuram consigam sempre
remédios para seus males.
OGUM, vencedor de demandas, que todos aqueles que
cruzarem a minha estrada, cruzem com o propósito de engrandecer cada vez mais a
Ordem dos Cavaleiros de OGUM.
Pai, daí luz aos meus
inimigos, pois eles me perseguem porque vivem nas trevas, e na realidade
só perseguem a luz que vós me destes.
Senhor, livrai-me das
pragas, das doenças, das pestes, dos olhos-grandes, da inveja, das mentiras e
da vaidade que só leva a destruição. E que todos aqueles que ouvirem esta
prece, e também aqueles que a tiverem em seu poder, estejam livres das maldades
do mundo.
Que em meus caminhos,
possa eu seu filho ser merecedor das vossas Bênçãos: a espada que me
encoraja, o escudo que me defende e a bandeira que me protege. Meu Pai
OGUM, não me deixe cair, não me deixe tombar!
PATACURI OGUM! OGUM YÊ, MEU
PAI!
FONTES:
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